Nota da Organização anarquista turca DAF sobre o golpe

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Golpe é o Estado, revolução é liberdade!

Quarta-feira, 20 de julho de 2016
Por evrimci Anarşist Faaliyet – DAF

O golpe, que tem sido uma realidade inevitável da presença do Estado nesta geografia desde o golpe militar de 1980, ressurgiu, depois de 36 anos, na noite de 15 de julho. Muitos edifícios estatais foram bloqueados por algumas horas durante a mobilização militar com base em Istambul e Ancara.
O golpe começou com o sobrevoo de aviões de combate em Ancara e o bloqueio das pontes em Istambul por soldados e continuou com a tomada do chefe de gabinete geral como refém e o ruído de tanques e tiros nas ruas. Muitos edifícios estatais foram alvejados por F16 e helicópteros, incluindo o edifício do parlamento e a sede da Organização Nacional de Inteligência; Havia choques de armas entre soldados e policiais em muitos lugares. Na sequência dos acontecimentos, a transmissão de televisão nacional do Estado foi cortada e a declaração do golpe chamada “Paz no Conselho da Casa” foi lida. Quando as ”5 horas de golpe” terminaram, mais de cem soldados, mais de oitenta policiais e mais de oitenta manifestantes anti-golpe morreram. 2839 soldados, entre eles muitos de alta patente, foram levados sob custódia.

Durante este período de 36 anos, o golpe como uma ferramenta de opressão política, violência e repressão, tem sido usado como uma ameaça pelo exército várias e várias vezes. Sem dúvida, para nós, os oprimidos, o golpe significa tortura, repressão e massacre dos povos nessa geografia e nestes períodos. É evidente que uma estrutura que conquistou seu poder pelos massacres que faz iria continuar a fazer massacres em nome de “proteger a unidade indivisível do país”. O recente golpe é um resultado de grupos de poder lutando pelo poder no interior do Estado. Talvez a existência oculta de grupos de poder fora do Estado traga sua definição a uma escala mais ampla. No entanto, não há dúvida de que aqueles que reforçaram seu poder como resultado destas 5 horas de golpe são o atual governo e o chefe de Estado.

A noite que começou como um golpe militar foi transformada em um “feriado da democracia” enquanto o poder do Estado ganhou o controle. O partido no poder, AKP, ganhou o título de ter “repelido um golpe”, com sua vitória contra o golpe, aumentando sua legitimidade de ter “sido eleito”. Ao longo da noite, todos os canais de TV fizeram transmissões que serviram a esta vitória e fizeram a propaganda da ilusão da democracia personificada em Tayyip Erdoğan. Esta propaganda também foi feita de forma contínua pela mídia que era conhecida por ser opositora. Nessa luta pelo poder estatal, a mídia não só tomou o lado de Tayyip Erdoğan como também desempenhou o papel de canalizar as pessoas para as ruas.

Tal como as mídias, os partidos de oposição no parlamento que não “pouparam” o seu apoio ao AKP desde o início deste processo; caíram na armadilha do poder do Estado de “impedir outros de fazer política”. Sua postura “pela democracia contra o golpe” como uma máscara de sua ignorância política. Isto indica claramente que, a curto prazo, eles não vão se mobilizar de outra forma a não ser reforçando as políticas de poder do Estado. Definindo os que “vão morrer quando Tayyip Erdoğan disser morram e vão atirar quando ele disser atire”, preenchendo as lacunas com slogans de “queremos pena de morte”, focando em linchar qualquer um com quem se deparam, como “defensores da democracia”; Não é este um sinal de estagnação política dos mesmos partidos de oposição?

Com este golpe e a vitória contra o golpe, o AKP tem agora o ambiente que necessita para criar a transformação ideológica na sociedade. Os “50% que mal conseguiram se conter em casa”, que foram apresentados como uma ameaça por Tayyip Erdoğan durante os protestos Gezi, estavam nas ruas. A cultura fascista, que é uma parte importante da transformação ideológica que está ocorrendo desde o sistema legislativo até a vida social, foi despertado com os mobilizados pelo Estado para as ruas. Não só isso, eles foram rotulados como as pessoas que tentam manter o poder da democracia… Não é difícil adivinhar como essas “mobilizações democráticas” vão encarar os oprimidos de maneiras diferentes em lugares diferentes. Já ouvimos notícias de ações de linchamento àqueles que não tomam partido pelo reforço ao poder do Estado.

Esta luta de grupos de poder que tentam adquirir o poder estatal que opera no topo da crescente injustiça econômica e política não é senão a perpetuação da autoridade de opressores sobre os oprimidos, a fim de destruir a liberdade dos oprimidos. Não há dúvida de que nem a ditadura visível ou invisível, nem os militares de estruturas civis, nem o golpe, nem as eleições de poderes políticos que são os inimigos do povo tem alguma coisa a ver com a vontade do povo. Nós, que acreditamos que a vida livre não pode ser criada por um golpe de Estado ou por meio de eleições, reconhecemos a existência do Estado como um golpe contra a liberdade, e a nossa revolta continuará até que ela cria um mundo livre. O estado é o golpe, a revolução é liberdade. O que todos nós precisamos não é ter esperanças nas lutas entre as autoridades, mas saber que a esperança é a revolução pela liberdade.

Devrimci Anarşist Faaliyet (DAF)

Tradução: CLAR

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