EUA evita condenar abusos dos turcos contra os curdos e apela ao PKK que pare de lutar

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Qamishli – Os Estados Unidos estão pedindo ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) para pararem de lutar contra as forças de segurança turcas, evitando ao mesmo tempo condenar as violações dos direitos humanos por parte das autoridades turcas, que mataram centenas de civis.

“Nós vemos o PKK como uma organização terrorista estrangeira e apoiamos os esforços da Turquia em ir contra o PKK. Mas, como em todas as operações de contra-terrorismo, nós sempre queremos ver todos os esforços feitos de forma a evitar e certamente minimizar quaisquer vítimas civis. E, certamente, gostaríamos que qualquer tipo de operações de contra-terrorismo estejam conscientes dos direitos humanos e das questões de direitos humanos”, disse Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, sem condenar os abusos.

De acordo com ambos Anistia Internacional e Human Rights Watch, as autoridades turcas violaram os direitos humanos na guerra contra o PKK na região curda do sudeste da Turquia. No entanto, os EUA apenas pediram ao PKK para parar de lutar contra o exército turco.

O Human Rights Watch (HRW), em um relatório publicado em 11 de julho, acusou as autoridades turcas de encobrirem grandes violações dos direitos humanos no sudeste e disse que pelo menos 338 civis foram mortos nas áreas onde houve confrontos entre as forças armadas turcas e as Unidades de Proteção Civil (YPS) ligadas ao PKK.

“Nós gostaríamos de ver o PKK parar seus ataques às autoridades turcas ou à polícia e forças de segurança turcas e ver um retorno, mais uma vez, para algum tipo de mecanismo através do qual poderia haver uma solução pacífica – ou discussões, ao invés, sobre o fim a violência. Mas, em qualquer caso, apoiamos o direito da Turquia de defender seus cidadãos”, disse Toner na segunda-feira.

O porta-voz do governo dos Estados Unidos também se recusou a comentar sobre possíveis esforços ou envolvimento da comunidade internacional em resolver o conflito com o PKK. “Gostaria apenas de reiterar o fato de que nós esperamos que o PKK venha a agir com moderação”, disse ele.

Até agora, após o fracassado golpe militar na Turquia no último fim de semana, em que muitos dos principais generais que estavam envolvidos em abusos dos direitos humanos em áreas curdas da Turquia foram presos, o PKK tem agido com moderação e pareceu parar de lutar ou realizar ataques. O PKK adotou uma política de esperar-para-ver nessa nova situação.

“Sempre houve uma vontade do lado curdo de manter negociações, mas eles não confiam no [presidente turco] Erdogan,” disse Gareth Jenkins, um analista da base de Istambul do Programa de Estudos Rota da Seda, ao ARA News.

O analista não espera que o governo turco do presidente Recep Tayyip Erdoğan vá retomar o acordo de paz de dois anos que entrou em colapso em julho de 2015, embora tenham sido os militares, e não o PKK, que tentaram derrubar o governo.

“Eu não [espero um novo processo de paz], porque todo mundo sabe que foi Erdogan quem ordenou a política de linha dura no sudeste”, disse ele.

“O PKK é um dos principais beneficiários do atual caos na Turquia, especialmente enquanto Erdogan tem usado uma legítima tentativa de golpe como uma desculpa para instigar o expurgo de milhares de soldados, juízes e procuradores a quem ele não gosta”, disse Jenkins ao ARA News.

“A própria tentativa de golpe estava sendo prejudicial o suficiente, mas a reação de Erdogan a ela vai resultar em graves prejuízos para a capacidade operacional militar turca,” o analista concluiu.

Reportagem de: Wladimir van Wilgenburg

Fonte: ARA News

Tradução: CLAR

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